Desvios em direitos de transmissão: Conmebol recebe quase R$ 400 milhões devolvidos de propina e ignora clubes lesados
Foto: Vladimir-vinogradov-istock |
Durante a
semana, a Conmebol anunciou que receberia US$ 71 milhões (R$ 372 milhões de
reais) do Departamento de Justiça dos EUA como ressarcimento pelos casos de
corrupção envolvendo seus ex-dirigentes. Entre os casos de corrupção apurados
pela Justiça, estão contratos de direitos da Libertadores. Os clubes
participantes, portanto, foram lesados durante anos. Foram também ignorados
pela Conmebol na distribuição do dinheiro.
Recontemos a
história desde o início. A investigação norte-americana constatou pagamentos de
propinas a cartolas em diversos contratos da Conmebol. Por isso, foram presos
três de seus ex-presidentes. Ainda foram investigadores três ex-presidentes da
CBF nos mesmos casos.
Entre as
irregularidades cometidas, estavam pagamentos de propina para os cartolas para
a obtenção de direitos da Libertadores. Isso começa em 1996 com a empresa ISM,
de Zorana Danis, que admitiu dar subornos a dirigentes para ficar com direitos
de marketing da entidade.
E se
estendeu até 2016 também envolvendo direitos de televisão da Libertadores. A
empresa T&T (Torneos & Traffic Marketing), da qual era sócio Alejandro
Buzarco, comprou esses direitos de televisão desde 1999 e depois os repassava a
outras TVs. Buzarco admitiu pagar propinas aos cartolas.
A T&T
chegou a pertencer em parte à Fox americana. A Globo, por exemplo, comprava os
direitos da Libertadores da T&T. Os preços eram bem inferiores aos
atualmente cobrados pela Conmebol de forma direta.
Com
contratos menores, graças à propina, as cotas dos clubes eram bem menores. Por
exemplo, o campeão ganhava US$ 5,1 milhões até 2015. Atualmente, ganha US$ 15
milhões. Clubes brasileiros e argentinos cansaram de reclamar das cotas e
premiações pagas na Libertadores. Ora, essas eram baixas porque havia
corrupção.
A ação na
Justiça norte-americana pressupõe que existem vítimas das ações de corruptores
e corrompidos. Juntamente com penas de prisão, eles têm de pagar restituições à
Justiça do dinheiro desviado. É daí que vem o dinheiro para ressarcimento da
Conmebol. Ressalte-se que esse montante não foi pago inteiro, nem se sabe se
será. Buzarco, que admitiu pagar propinas, topou devolver US$ 21 milhões.
Ao anunciar
a recepção do dinheiro da Justiça dos EUA, a Conmebol divulgou sua destinação
para projetos de desenvolvimento do futebol na América do Sul: 1) Programas e
acampamentos para jovens 2) educação 3) direção (coaching) e arbitragem 4)
futebol feminino 5) regras e procedimentos. Não foram mencionados os clubes.
Questionada,
a assessoria da Conmebol informou na terça-feira que, se houvesse fundos para
filiados, seriam distribuídos pelas associações nacionais. Não soube informar
se os clubes seriam ressarcidos. Não há no seu comunicado sobre destinação de
dinheiro nenhuma menção a clubes.
A Conmebol
já tinha recebido outros US$ 57 milhões de contas de Nicolas Leóz, seu
ex-presidente, que enriqueceu recebendo propinas pela Copa América e pela
Libertadores. Também nada foi destinado aos clubes. Poderia haver programas
para melhorias de estádios, fundos para transporte nas competições, cotas extras
de premiação.
É verdade
que as agremiações brasileiras, argentinas, uruguaias e de outros países nunca
se interessaram em se apresentar como vítimas no processo nos EUA. A Conmebol
teve direito ao dinheiro porque contratou um escritório de advocacia para se
apresentar como lesada. Igualmente prejudicados, os clubes ficaram, como
sempre, fora da partilha decidida em Luque, sede da entidade.
Com
informações Blog do Rodrigo Mattos / UOL Esporte
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