Globosat e Sky pedem união do setor e criticam Facebook e Netflix
O diretor geral da Globosat, Alberto
Pecegueiro, e o CEO da Sky, Luiz Eduardo Baptista, cobraram, durante o
PAYTV Forum, que acontece esta semana em São Paulo, união do setor para
proteger a TV paga dos entrantes no mercado de conteúdo. "Estamos sempre
sendo desafiados e o entrante sempre tem a simpatia. O negócio da TV paga
sempre encontra reação do consumidor", disse Pecegueiro. "Estamos
numa era em que todos os 'seres jurássicos' têm que se unir. Temos um legado a
defender. Tem muito o que podemos fazer em cooperação, mantendo ainda alguma
concorrência", concordou Baptista. Para eles. A indústria de TV por
assinatura tem muito a mostrar e um grande valor conjunto, quando olhado sob a
ótica da oferta de todos os canais, mas muitas vezes isso acaba não sendo
percebido.
Pecegueiro fez duras críticas ao
modelo da Netflix no evento. Segundo ele, ao entregar conteúdo por um valor
baixo, a plataforma destrói o valor da TV por assinatura. "Netflix tem
inúmeras qualidades. Ninguém questiona as novidades tecnológicas e a mudança no
hábito de consumo que ela trouxe. A questão é que o modelo de precificação
ainda é insuficiente. Até que encontre um modelo sustentável, ela é uma
destruidora do valor do setor", disse. "Por que se entrega tanto
conteúdo por tão pouco valor?", questionou.
Segundo ele, os estúdios já admitem
que criaram um monstro ao ceder conteúdos à Netflix. Hoje, a plataforma destina
grande volume de recursos a produções exclusivas, enquanto os estúdio começaram
a retirar seus conteúdos. "Esses conteúdos (dos estúdios) ainda
representam 70% a 80% dos acessos. Aumentar o volume de produção própria, em
nível global, pode ser irresponsável", disse o executivo.
Para Pecegueiro, como o Brasil é o segundo mercado da plataforma, é também
desse investimento. O executivo diz que o investimento por aqui, no
entanto, é de qualidade duvidosa, "como aconteceu conosco no
passado". A série "3%", produzida para a Netflix no Brasil pela
Boutique, chegou a ser, entretanto, a série de língua não-inglesa mais
assistida dos EUA.
O executivo destaca que o volume de
conteúdo na TV paga é substancialmente maior. "Em 2017, o conjunto das
programadoras da TV paga ofereceu 2,3 mil séries. A Netflix tem 1,2 mil",
disse. Ele se refere a conteúdo com dois ou mais episódios.
O diretor geral da Globosat atacou
ainda a entrada dos players online na disputa de direitos esportivos. "A
bolha do preço de direitos esportivos cresce e estoura periodicamente, mas como
pode crescer exponencialmente enquanto o país vive sua pior recessão. Ninguém
aqui está soltando foguetes. Por quê o segmento esportivo está fora desse
processo? Por que alguém vai se dispor a pagar o dobro do que foi pago no
último ano?"
Segundo Pecegueiro, a compra dos
direitos da Champions League pelo Facebook foi "um processo não
ético". Além disso, ele diz que a rede social não sabia qual é realmente o
negócio: "Agora tem que produzir os jogos e não sabe fazer isso".
Para o executivo, o investimento não vai se pagar. "Eles vão aprender
isso. Coletivamente a indústria de TV é muito forte. Dá para segurar até eles
aprenderem", afirmou, ao ser questionado se esses novos modelos trazidos
não corriam o risco de desestruturar a indústria de TV paga até que um modelo
de equilíbrio fosse encontrado.
Crise
Os dois executivos comentaram também
a queda de base no setor. "Não percebemos queda de demanda. Há muita
'desconexão involuntária' (quando a operadora corta o sinal por inadimplência).
Acabou o dinheiro, mas o assinante ainda percebe o valor do produto",
disse Pecegueiro. "Todos nós perdemos margem, mas colocamos em primeiro
lugar a qualidade porque sabemos que uma hora saímos dessa encrenca. Esses
ciclos da economia brasileira – na hora que sai, tem que ter um produto bom para
entregar.
Para Baptista, pode-se apresentar
diferentes explicações sobre a retração do setor nos últimos anos com base em
mudanças de hábitos, novas aspirações, evolução da tecnologia etc. Mas o que
vale mesmo para explicar é a falta de renda. "Temos uma indústria que tem
uma correlação íntima com o índice de emprego", disse. "Tomamos
a decisão há quatro anos de ser intolerante com quem não pode pagar o custo
mínimo do que entregamos. Para quem ficou, temos resultados melhores. Quem achávamos
quera coisa momentânea, contemporizamos. Mas os outros, deixamos ir".
Para o presidente da Sky, o
setor precisa se reorganizar para um processo de cadeia de valor com
desintermediação. "Vai sobreviver quem tiver o marketing de conteúdo
parrudo. Me vejo como muito mais que uma operadora: um distribuidor de
conteúdo", disse.
O presidente da operadora de DTH
lembrou ainda que o desarranjo do mercado traz o tema da curadoria. A questão a
ser resolvida é como se criar um market place de conteúdos, incluindo a
curadoria das operadoras. Para a Sky, "fair share" de cada elo vai
mudar, mas os grandes market places de conteúdos, os shopping centers, não vão
morrer. "Eu não trabalho para destruir valor de nada que não tenha um swap
imediato", disse o executivo. "Os entraves são os conflitos de como
fazer. Como sair do modelo a para o B".
Por Fernando Lauterjung PORTAL TELA
VIVA
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