Depois de 34 anos Maurício Kubrusly deixa a Globo
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O jornalista
Maurício Kubrusly deixou a TV Globo, emissora na qual trabalhava desde 1985.
Foi, inclusive, diretor artístico da antiga Rádio
Excelsior, onde mantinha um programa de música diário.
Ali Kamel, diretor de jornalismo da Globo,
fez a comunicação para a Redação do "Fantástico", onde Kubrusly vinha
prestando serviços, e a toda equipe do departamento na tarde de hoje.
Leia abaixo o comunicado de Ali Kamel
"Como definir o estilo, o jeito de contar
histórias de um jornalista tão original como o Mauricio Kubrusly? Sim, esse
e-mail é para contar que Kubrusly está deixando a TV Globo. E para homenageá-lo
também.
Definir o
estilo não é fácil, e para tentar responder a essa pergunta, assisti ao
primeiro VT do Kubrusly como repórter contratado da TV Globo. O ano era 1985. O
assunto, a reestreia em São Paulo da peça 'Ubu, Pholias Physicas, Pataphysicas
e Musicaes', do Grupo Ornitorrinco, com Cacá Rosset e Rosi Campos. Convido
vocês a conferir o arquivo em anexo.
Entenderam?
Kubrusly não dá pra classificar, rotular. Ele é o oposto do convencional.
Poucos repórteres podem dizer que criaram uma marca. Mauricio Kubrusly
conseguiu.
Do
jornalismo cultural dos anos 1970 e 80 a um dos quadros mais adorados da
história do Fantástico, ele virou referência na nossa profissão. Com leveza,
inteligência e generosidade. Poucos conseguiram de imediato fazer parte da
memória afetiva do programa. Com o seu 'Me leva Brasil', Kubrusly conseguiu. É
um feito.
Carioca
criado em Botafogo, Kubrusly foi aluno do Colégio Pedro II. Desde cedo, o
jornalismo o atraiu: participou de dois jornais estudantis e começou cedo a
carreira, aos 18 anos, em 1963. Não demorou e já estava no Jornal do Brasil,
entrevistando gente de ouro como Vinicius de Moraes. Pouco depois, mudou-se pra
São Paulo e logo foi trabalhar no recém-criado 'Jornal da Tarde'.
Nos anos
1970, Kubrusly se especializou como colunista e crítico musical. Tornou-se uma
'autoridade', embora a palavra não combine com o jeito despojado dele. Da
revista Senhor à Somtrês, que minha geração lembra com saudade, passando pelo
programa de rádio 'Sr. Sucesso', da Excelsior, ele se tornou um dos mais
respeitados jornalistas de cultura. Entrevistou todos os grandes nomes da nossa
música, sem preconceito e sem reverência cega. Ao lado de Zuza Homem de Mello,
no programa "Jogo da Verdade', na TV Cultura, Kubrusly fez a última
entrevista de Elis Regina, em 1982. Ela morreu duas semanas depois.
A aproximação
com a Globo foi aos poucos. Em 1979, Vera Iris tentou contratá-lo, mas ele não
quis. Preferiu fazer participações esporádicas, como colunista em alguns
telejornais. Veio pra valer em 1985, cobriu o primeiro Rock in Rio e foi
construindo a persona inimitável que a gente reconhece no vídeo em poucos
segundos.
Kubrusly
virou repórter exclusivo do Fantástico em 1997, e o Luizinho, lá de Portugal,
conta que a sintonia foi forte e imediata, sem se apegar a fórmulas prontas,
sempre criativo: 'Não conheci ninguém mais habilidoso que o Mauricio na arte de
extrair, dos personagens, fossem eles ricos ou pobres, caipiras ou doutores,
histórias - as mais engraçadas; sentimentos - os mais profundos. Com aquele
jeito fanfarrão e descontraído, se divertia com as mais estranhas bizarrices.
Mas também tinha elegância e respeito para narrar delicados dramas humanos'.
Em 1998,
Kubrusly propôs a reportagem que viria a ser o embrião de um dos quadros de
maior sucesso do Fantástico. Ele embarcou na viagem de ônibus mais longa do
Brasil, quase cinco mil quilômetros entre Pelotas e Fortaleza. Depois dessa
aventura, ele não tirou mais da cabeça a ideia de percorrer o país pra contar
as histórias de brasileiros peculiares. Em 2000, nasceu o 'Me Leva Brasil'.
O título
certeiro foi ideia de Zeca Camargo. Em 17 anos no ar, o 'Me Leva Brasil' rendeu
270 reportagens. O conceito foi ampliado para temporadas internacionais,
viajando por países como Itália, Portugal, Índia. O quadro revelou personagens
impagáveis, como o senhor mais azedo e mal-humorado que já se viu, o Seu Lunga;
o pão-duro de Caicó, que chegava a dividir um palito de fósforo em dois pra
economizar; o bode que seguia cortejos fúnebres; o padre ginecologista, a
mulher-sereia... Figuras que a produtora Karina Dorigo encontrava nos recantos
mais distantes. Ela ajudou a formatar o quadro, trabalhando em parceria com o
Kubrusly nos primeiros quatro anos de 'Me Leva Brasil'.
Kubrusly
também visitava festas regionais. Numa entrevista, ele disse: 'Pode ser a festa
do caqui, da banana, do chifre de boi, da farofa. Até a festa da farofa eu fiz,
Campeonato Brasileiro de Farofa. E era engraçado, porque o Pedro Bial dizia
sempre assim: 'Festa! Onde andará o Mauricio Kubrusly?' E abria pra mim. Quando
terminava o meu trabalho, eu ficava conversando com as pessoas'.
Nos últimos
anos a saúde deu três sustos, superados, mas que fizeram o querido Kubra, como
o pessoal do Fantástico gosta de chamá-lo, seguir outros caminhos. Depois de 34
anos na Globo, ele parte para viver novo sonho. Um projeto pessoal que, logo
mais, será dividido por ele com todos.
Kubrusly,
obrigado por todos esses anos de extrema competência e profissionalismo. Sua
contribuição para a Globo e para o jornalismo brasileiro já são História (com
agá maiúsculo). Uma história que vai continuar a ser escrita fora daqui. Em meu
nome pessoal e no da Globo, eu expresso uma imensa gratidão. Muito obrigado.
Bruno
Bernardes, que pegou o bastão de Luizinho, e que acompanhou seu trajeto no
Fantástico por vinte anos, sempre com admiração, me faz terminar esse e-mail
com a observação:
Mas você
ainda não explicou o que é Pataphysica!
Kubrusly, obrigado e boa sorte".
Ali Kamel
Com
informações Blog do Flávio Ricco com colaboração de José Carlos Nery
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