ANÁLISE: Futuro dos direitos de TV do Brasileirão divide-se entre revolução e incerteza
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Imagem / Reprodução |
Há dez anos as negociações de contratos de direitos do Brasileiro eram monótonas: a Globo sempre levava tudo. Houve uma mudança com a entrada da Warnermedia em 2016. Mas o futuro da transmissão da Série A promete uma revolução maior ao mesmo tempo em que é uma incógnita em relação à valorização (ou não) do produto. O campeonato inicia mais uma edição neste sábado.
Os contratos
atuais da Globo e da Warner pelo Brasileiro estendem-se até 2024. Uma repetição
do cronograma dos últimos acordos implicaria em uma negociação para o próximo
contrato no início de 2022, embora não exista uma certeza.
O blog ouviu
sete pessoas do mercado de futebol, entre executivos de TV, dirigentes clubes e
agentes do meio, para entender como será o cenário para estas tratativas. Nem
todos quiserem falar oficialmente. Em comum, todos apontaram que há uma série
de variáveis que vai influir na receita final dos clubes e no modelo final que
os torcedores vão consumir os jogos.
Na realidade
atual, o Brasileiro vale entre R$ 1,5 bilhão e R$ 2 bilhões por ano. É
assistido em TV Aberta na Globo, na TV Fechada, na Sportv e TNT, e no Premiere
para todo o pacote de jogos.
O primeiro
fator para determinar o valor dos direitos futuros será para quantas
plataformas será interessar obter os direitos. Haverá investimento de empresas
para incluir o Brasileiro em gigantes do streaming? As TVs pagas continuarão a
gerar renda suficiente para pagar pelos direitos? E o modelo de publicidade de
TV Aberta continuará a valer a pena no futebol?
"Não
tem uma resposta hoje sobre os direitos do Brasileiro. Primeira vez vai ter ver
como será a repartição dos direitos do Brasileiro. Ter uma única plataforma
juntando TV, cabo e PPV foi uma herança deste último contrato. O quanto vai
mudar depende do avanço de infraestrutura de internet em 2025", afirmou o
presidente do Bahia. Guilherme Bellintani.
Esta
primeira variável - das plataformas em que fará sentido assistir ao campeonato
- reflete no segundo fator para o valor dos direitos que é a concorrência. Se
houver um modelo consolidado de transmissão por streaming, rentável, empresas
como a Warnermedia, Disney e Amazon serão candidatas a obter os direitos para
turbinar seus pacotes. Se este cenário não estiver claro, o número de
interessados cai e pode se restringir aos tradicionais.
A Globo
baseia todo seu pacote de futebol no Brasileiro que se estende por sete meses.
Mas seu investimento vai depender de manter seus modelos rentáveis - TV Aberta
e PPV - e da concorrência. Há uma percepção na empresa de uma saturação dos
preços por direitos. Já reduziu investimento em dólar, Libertadores e Copa do
Mundo, e no Brasil, Paulista e Carioca.
Além disso,
o Brasileiro será negociado em paralelo ou depois da Libertadores, cuja
licitação do próximo contrato será feita no primeiro semestre de 2022. Na
avaliação interna da Globo, quem comprar os primeiros direitos pode ficar com
menos caixa para investir na Série A.
E aí entra
um terceiro fator: como será vendido e empacotado o Brasileiro. Com sete meses,
a competição vale menos do que se fosse estendida por dez meses como na Europa.
A venda individual também dificulta que seja feito um fatiamento de jogos com
negociação de pacotes de partidas para diferentes veículos.
Há um
consenso entre executivos, portanto, de que a venda coletiva aumentaria o valor
geral do Brasileiro.
"Se
tiver um modelo mais organizado de negociação, tem potencial de receber mais do
que hoje. Se tiver um modelo mais europeu. Poderia ir na contramão do mundo.
Talvez com a Globo ficando com uma fatia, mas não como o todo", disse o
especialista em finanças do futebol, César Grafietti, que fez um estudo sobre
direitos na Europa e constatou estagnação ou queda em campeonatos como
Bundesliga, Série A ou Premier League.
A percepção
é similar da vista por executivo da Warnermedia que vê potencial de crescimento
dos valores pagos pelo Brasileiro. Mas reconhece, no entanto, que a mudança de
plataformas podem afetar o campeonato como ocorre em outros lugares.
"Potencial
(do Brasileiro) é maior do que tem hoje. Os direitos têm volatilidade e vão
continuar passando, como já passaram na história anterior, por isso. Mudanças
de formato de transmissão causam essas volatilidades. O produto de futebol
brasileiro tem potencial de ser maior, direitos, patrocinadores", afirmou
Fábio Medeiros, Vice-presidente de Esportes da Warnermedia.
Não há
atualmente um empacotamento do Brasileiro cujos direitos são vendidos de forma
fragmentada. Há algumas conversas de parte dos clubes para conversa em
conjunto. Mas ainda parece longínquo um cenário de negociação coletiva.
"Acho
que há uma chance boa de venda em blocos (de clubes). Não tenho a ilusão da
venda inteira, mas boa chance de venda em bloco. Acho que faz sentido mesmo sem
lei de mandante. Warner demonstra isso ao ter comprado de oito clubes. Estão
fazendo com blocos", disse Bellintani, do Bahia.
De outros
dois dirigentes, o blog ouviu análise similar de que não parece fácil a
negociação coletiva. Há times que têm interesse em conversa separada por
entenderem que conseguem mais valores desta forma.
Mas, neste
cenário, pesa um novo fator: qual será a lei vigente sobre direitos de TV no
momento da negociação? O governo de Jair Bolsonaro já editou uma MP do Mandante
que dava só direitos para os times donos da casa. E houve uma promessa para os
clubes de novo texto, o que não aconteceu até agora porque Brasília ferve com
outras crises como a relacionada à pandemia.
Com uma nova
lei, haveria maior chance de formação de blocos de clubes, mas ao mesmo tempo
times com maior torcida poderiam se isolar em suas negociações. Exemplos como
as vendas de direitos do Carioca e Paulista são vistos também como microcosmo
do que pode acontecer no futuro.
"Acho
que o Brasil está mais para ficar parecido para manter os valores de direitos
do que uma queda muito brusca. O problema de imaginar o Brasil é o modelo de
negociação", completa Grafietti.
O torcedor
terá de esperar pelo menos mais um ano (ou mais) para ter as respostas para
saber como será seu relacionamento com a sua maior rotina no futebol: o jogo
rodada a rodada do seu time no Brasileirão.
Por Rodrigo Mattos / UOL Esporte
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